A obra é o limbo úmido dos que erraram na curva da encruzilhada,
Dos que tomaram outro caminho,
Dos que aguardam julgamento
E purgam…
Lutar contra as formas rôtas do concreto
É a luta mais injusta que existe -
às coisas não se aplica justiça.
Pois o rancor e o remorso do condenado às coisas nunca afeta.
Ao metal retorcido é sujeitada a carne.
O chão empapado de chuva, o cimento e o suor;
Oprimem e diminuem a honra dos que sobre eles se esgueiram.
A obra é um espremedor de homens.
O coletivo dos perdedores, os sem sentido na vida.
Mesmo assim ainda aporta tanto ego inflado…
Herança hierárquica que escorre desde o milionário e que no fim deságua aqui.
O essencial é feito de lixar a pele nos poros do prédio,
E calejar os ossos ao som das pancadas e tiros que ecoam pelos corredores,
A cada saco ou pilha de bloco carregado de qualquer jeito, que extenua, acentua a curva nas costas,
Vê-se despontar um pouco do ódio.
A cada lamúria estridente do atrito do aço que adentra aguda no labirinto da alma trincando os dentes,
Vê-se erigir pouco a pouco colossos calados, bestas amansadas,
Espíritos de metal forjados pela marreta e o fogo.
Vêm os dias e eu vivo das cinco da tarde às cinco da manhã,
A vida é o refugo dos dias perdidos pelos andares escuros,
Longe do resto do mundo, emparedando lamentos e sangue,
A tentar dar função às coisas bem como dar função à angústia.
Com ferramentas penduradas ao cinto que são como grilhões que me puxam à terra.
Sou ninguém e sou leve.
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
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