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A peste lírica


Temos seguido os preceitos da carne, Hedoné! Voluptas!
Copulando, alheando-se, enganando, indignando...
Temos sido hólons nulos, fantasmas ocupando espaço em assentos do transporte
[público,
Ruminado as horas frente às novidades, tecnologias infalíveis a aniquilar a alma à
[curto prazo, em pequenas prestações.

Todavia, pairando sobre nós, ela adimensional, é como luz neste quarto escuro – a
[peste lírica.
E é como fome!
Por ela sou como a carne podre espalhando veneno para quem de mim é a
[saciedade débil, apenas.
Se o céu dessa mágoa eterna pesa em minha carcaça com este sol malsão,
E as horas estéreis, com sua linearidade vertical e infinita, prendem-se aos meus
[rins como argolas e bolas de ferro,
Se os cérberos da angústia imperene a mastigar meus intestinos com dentes do
[retrocesso pleno; 
Meu ato desesperado é abrigar-me em ventre morno, torpe e úmido,
Como a depressão na rocha - parede marítma colossal -, que abriga da tempestade
[o albratroz ferido mortalmente.
O túmulo gentil acha seu inquilino previamente.
A peste lírica é como ter a contínua epifania da morte,
E tê-la por companheira é maldição dicotômica.

  Creative Commons Licence
A peste lírica by Octávio Brandão is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Based on a work at http://tavernadaamnesia.blogspot.co.nz/.

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