Você tem uma vida
E eu estou quase lá,
Aprendendo a morrer
Eu vejo a alvorada
Aprendendo a sangrar como um homem
Sorvendo saúde onde ninguém vê.
No ponto onde todos evitam chegar
Por temer a paixão.
Ali é que eu abro picadas
Escrevo para me esconder da incoerência do mundo
Como quem tapa os ouvidos.
Escrevo como quem chora pra dentro
Essa lamúria, esse soluço num ritmo penoso e vegetal,
Escrevo como um fugitivo cego.
Escrevo porque vi minha geração emudecer e definhar
Então decidi viver for a de mim.
(...)
Vivi longe da civilização, cara-pálida!
Sou os olhos que espreitam da mata,
A única testemunha do embate convulso,
Genuíno da natureza.
Deixei a segurança há tempos
E já não há como voltar.
Hoje a verdade é desnuda,
Hoje sou imortal,
Os raios do sol,
Queimando retinas
Incinerando neocórtex.
Sou as mãos em oferta
de todas as conexões subterrâneas
de toda mentação
que este universo contém.
Minhas veias forjadas para jorrar.
O coração, não não pulsa, estronda
Dita o compasso do dia -
Sístole, diástole/espasmo, frêmito.
Minha mente é baderna de vândalos
Que vociferam impropérios insanos,
Clamor sem sentido
Num caos orquestrado -
O maquinário sombrio de uma razão ocultada.
Minhas células são logaritmos,
Seguem desordenados
Ao som do susto e do sacrifício.
Arrastando esta carcaça rumo ao descanso final (???)
Mas não há, porém, abrigo no reino do sofrimento entrelaçado!
Vejo atônito a morte avançar
E falta-me força para resistir.
Renego a beleza em um manifesto de amor perdido
Meu ser supera o abismo
Delineia delicado sua imensidão.
Meus versos são mansos, não-lineares
Rumo à perdição do espaço cósmico,
Como mancha energética
Cuja substância desconhecida se dilui mas reluta
Então mantém sua unidade primordial.
Ironicamente conectadas, todas minhas personalidades
São como amantes perfeitos fadados a nunca se conhecerem.
Sou sua busca eterna,
Sua ânsia insaciável.
Porquê escrevo by Octávio Brandão is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Based on a work at http://tavernadaamnesia.blogspot.co.nz/2016/03/porque-escrevo.html.
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