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Mostrando postagens de março, 2015

cerveja matinal

Digam o que quiserem, mas cerveja forte de manhã é estranhamente doce. Os que beijam seu lixo, atrofiados, infantes que sangram e sem gangrena, prosseguem languidamente batendo a cabeça já mole, descalcificada, em pôsteres de desgraça sem se dar conta. Esse devaneio, esse esquecimento, esse torpor é a vontade ativa de se alhear, de ser objetivo na fuga, certeiro em localizar lugar nenhum do mapa, com a mente turva. É escuro o caminho por onde meu único olho percorre até o ponto de luz, é longo, e os nervos desse meu único olho expandem o cansaço pelo resto da face. Ouço uma flauta tímida no apartamento do lado, Tímida flauta no meio da megalópole dos fones de ouvido, cheia de consciência de sua extinção, de seus dias de multa pelo atentado ao mal-gosto, como um animal noturno obrigado a morar no porão da boate desafia o dia impelido pela necessidade, de pouco em pouco vai morrendo. Algumas viagens ao banheiro, viagens perdidas, flash-devaneios e olhadas ao espelho, então,

18 de março (manhã no trem)

"No final você só quer alguém para odiar, né? Posso ser essa pessoa pra você, só que eu cobro pelo serviço. Quero tua energia vital, sugar tua seiva, tirar teu sono e tua serenidade. Na empoeirada fiação, no quarto escuro, na casa-das-máquinas do seu ser - surpresa quando vê meus olhos te espreitando e descobrir que sempre co-habitamos ali. Sou responsável pelos seus atos-falhos. Seus enganos e acessos de loucura no meio das manhãs na megalópole infernal são rastros meus. Meus vestígios, meus pêlos grossos, são a nojeira de ser você. Seus desejos ocultos, asquerosos, são meu hálito putrefato, carregado de sentido obceno, a queimar ao pé-do-seu ouvido. E o melhor lado de seu caráter ainda é mácula de meu esperma apodrecido. Eu sou o fruto estéril, algo que nasce em vão e sem razão, ocupo espaço entre tuas costelas, dreno tua vida. Eu cobro caro, cara!" - ele disse "Eu sou a miragem da beleza inalcançável!" - berrava. Sua voz remedava o estertor de outrém.