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Mostrando postagens de junho, 2015

Morte na embarcação (Dive in me)

"Pelagic-Chevron", by Bill Hayes Senti um calafrio quando ele trouxe aquela espécie de serpente para dentro da embarcação. À princípio parecia confiar na gente – decerto nunca havia visto um humano antes. Movia-se com elegância, como se ainda nadasse escorregava macia pelo assoalho, parecendo estar testando este novo ambiente cheio de gravidade. Correndo longitudinal sobre seu torso brilhante e musculoso, duas faixas – uma azul e a outra rosa, contrastavam com o corpo metálico e a barriga amarela. Duas barbatanas escapavam de dentro de sua boca e moviam-se independentemente. Vítor, apavorado, procurou algo para fustigar o bicho depois de já estar trepado no banco de couro marrom. Achou uma barra de ferro e com ela segurou o rabo do animal com força, para ver qual era a reação. O bicho abriu a boca desesperado e se enrolou. O estúpido sorriu como um demente. - Bicho feio da porra! Babou e limpou com as costas da mão. Depois começou um jogo sádico, pressionando o pes

Up in the ass

- Vocês são uma cambada de ignorantes! - É, eu não nasci em berço de ouro, meu pai não é magnata! - O meu também não, ô estúpido!!! O pessoal sentado nos degraus da escada ficou me olhando de pé ali com uma certa indignação. O café estava morno e dulcíssimo, como sempre. Uma bosta! - Agora como é que você quer que eu explique os benefícios de se fazer meditação na empresa e assinarem? - Ah, ficar fazendo “oooooooooooohm” não vai me fazer ficar mais rico. Tem é que trabalhar, isso sim! Não vem com esse papo de “força da mente”, “reza”, “mandiga”... O que importa é estar ali, ó, no batente! Eu não assino e pronto! - Imagino que nem em Deus você deve acreditar, né? - Eu acredito é em mim! - Mas você sabe que sozinho nessa empresa você não ia ganhar porra nenhuma, né? - Não, porra eu não quero ganhar não. Todos riem. Fui pego de novo no embuste de significado. Justo por esse povo que prefere não pensar no significado de muitas coisas. - Tudo bem, mas e aí, espertão? Você não

A peste lírica

Temos seguido os preceitos da carne, Hedoné! Voluptas! Copulando, alheando-se, enganando, indignando... Temos sido hólons nulos, fantasmas ocupando espaço em assentos do transporte [público, Ruminado as horas frente às novidades, tecnologias infalíveis a aniquilar a alma à [curto prazo, em pequenas prestações. Todavia, pairando sobre nós, ela adimensional, é como luz neste quarto escuro – a [peste lírica. E é como fome! Por ela sou como a carne podre espalhando veneno para quem de mim é a [saciedade débil, apenas. Se o céu dessa mágoa eterna pesa em minha carcaça com este sol malsão, E as horas estéreis, com sua linearidade vertical e infinita, prendem-se aos meus [rins como argolas e bolas de ferro, Se os cérberos da angústia imperene a mastigar meus intestinos com dentes do [retrocesso pleno;  Meu ato desesperado é abrigar-me em ventre morno, torpe e úmido, Como a depressão na rocha - parede marítma colossal -, que abriga da tempestade [o albratroz ferido