Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de 2018

Ligação desesperada

O telefone toca interrompendo a solidão abissal. Whatsapp call - Primo, eu vou fazer, primo. Tá foda! - Tá locão já né? - Eu tô encima da janela, tá cheio de gente lá embaixo! Alguém atende o telefone. Sua voz está enfraquecida e ofegante. - Oi, eu sou o Ney. Tava passando lá embaixo e vi ele aqui. Eu sou ex-policial... - Cadê o Fábio? ...policiais não podem salvar a vida dele. Policiais matam mentes como a dele. - Ele tá bem? Deixa eu falar com ele. - Primo falo com você depois. - Pelo amor de deus, se você se matar você vai foder é comigo! A gente não sabe o que tem do outro lado, mas aqui você pode ter certeza do estrago que vai deixar pra todos nós. Isso é mais real que deus! - Tá, eu prometo. Lágrimas. - Tá, então vou ficar esperando a sua ligação. - Ok, tá tudo bem. Entre outras pessoas, a mãe atravessava a rua com a terapeuta do filho. Conversavam sobre como o reiki poderia salvar vidas. Fora a cena mais horrível que ela haveria de presenc

Pérola

Pérola This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License .

solitudine

Quando pulo quase, que abortado, da cama, ela muito já está desperta. Sorri de olhos fechados e se aninha em meus braços. Está sempre a dois passos a minha frente, mas cuida do vácuo atras de mim. No silêncio, numa quietude escura, sólida, maciça. Ela é a minha solitude. ela olha por mim, cuida pra que eu não seja enganado, que eu não me machuque. é seu interesse me ter inviolado, Mas me tem como escravo, senhora altiva, filha-da-puta.! Drena minhas energias, vampira! Mas quando chego do trabalho cansado ela é tudo o que quero encontrar. E ela está nua, morna, e pálida no divã, a me esperar com uma cerveja aberta, um baseado enrolado, a luz do abajour ligada... Ela é a viúva de veludo. Jurei que cometeríamos o suicídio juntos. Numa banheira morna, eu e ela. Uísque, heroína... Ou mesmo no trailer sujo. Às vezes me confundo com ela e vice-versa. Mas não, ela é só a minha solitude e minha solidão. Quando não estou com ela sou outra pessoa: Alegre, falante, realizado.

Essa gente

Gente rasa, razoável, me cansa. Gente que não sabe a importância do inútil (eu sou inútil) Grandiloquente, cheia de valores Tipo o cara que pôs carniça no lago que nadei quando moleque! Gente barulhenta, com motor dentro do peito, de quebrar pedra, deixar surdo, que faz destruição necessária, que desbasta a vida aos seus moldes e morre, como quem cospe e foge. Covarde. Essa gente inútil vive pelos cantos da casa Experimentando com as sombras e com o sol. Perto das janelas Perto das manhãs. Sabem ser netos Crianças caçadoras de vassoura na mão, Navegam em barcos de colchões velhos que eram cabanas E cobertores de pele de urso E cujos herois eram avôs. Essa gente sou eu

O seu paraíso fodeu meu rolê

O desespêro da noite nao é para os rasos. Gente-padrão, cristã. O desespêro da noite não é para quem tem esperança. Essa é a minha calçada. Luzes esparsas de tontura Me pergunto se este estado é o único e inventado. Se alguém já chegou tão baixo. Meu corpo, meu escravo, meu refém. Vítima. Bode-expiatório das massas. Se tudo já foi falado De que vale a vastidão? Se a alma se limita, adequa-se à solidão, E me olho no espelho e não me reconheço. - Sou fruto estéril da poeira do espaço que freme... (Um ente extradimensional vem à floresta. Espreita pela claraboia do trailer, Sou bicho, mas não acuado Acendo um cigarro e ganho o palácio das luzes, De copo em copo me contorço como minhoca decepada e seca ao sol No seu paraíso de cristal