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Sem paixão: Auckland

Os círios queimam dentro de mim, porém, não há paixão em Auckland.
Um dia acordo pêgo pela doença e ainda deixo você!
Não pague pra ver de quânticos ratos compõem a música de meu corpo semi-etéreo.
Não pague pra ver de quantos becos fugi,
Em quantas galerias de esgoto dormi
Com a lua escorrendo seu leite por sobre o limo e o concreto, que sorvi por noite à fio
Em minha maldita terçã.
Não queira saber…
Não! Da minha fome eterna!
De coisas fantasmas,
De meu miasma que não me mata
e me judia.

Hoje acordei doente, Auckland.
E não há sacra salvação, descobri,
Quando sou rei de minha solidão e aqui sou o Santo dos Viciados,
O Esquecido! (????????????????????)
E comigo padecem ignominiosos outros pagãos,
Como pôsteres em meu quarto
- Um panteão -
Que descolam com o tempo
levando consigo pedaços da parede coronariana
Desse coração leviano, antiquado, piegas.

Hoje acordei ao seu lado, doente, rangendo os dentes.
Arfava e ouvia a gaita inflamada
em meu peito onírico.
Com fôlego raso de poesia – Auckland, você não me inspira!
Suas noites sem rock, coleira ou correntes que rasgam a pele;
Suas noites zumbis perambulando ao som estridente da superfície do céu,
essa voz solitária que vem dos fones de ouvido.
Orgástica! Destoa da sua candura fingida, - ninfeta!
Meu agouro vai se decompor em seus banheiros públicos
Com lâminas e agulhas
Como cadáver ocultado, inocente por algum paranoico.
Malditos sejam os anos que me deixaste a esperar,
Como urubus que sobrevoam o moribundo infante na praia ao primeiro respiro da alvorada.


Creative Commons Licence
Sem paixão: Auckland by Octávio Brandão is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Based on a work at http://tavernadaamnesia.blogspot.co.nz/2016/03/sem-paixao-auckland.html.

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